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Respeitável público!

Nosso campaigner João Talocchi está participando em Bonn, na Alemanha, de um encontro preparatório da ONU sobre clima, que antecede à grande reunião marcada para dezembro, em Copenhague (Dinamarca). Apesar de sua importância, algumas das mais influentes delegações presentes ao encontro parecem ainda tratar a questão climática de forma irresponsável e, por vezes, até debochada.

Confira as aguçadas observações de Talocchi de tudo que viu, ouviu e sentiu em Bonn. Leia atentamente e entenda quem é quem nesse jogo de conflitos, interesses, esperanças e decepções:

Sejam bem-vindos ao circo do clima! Onde a ciência e o futuro do planeta são tratados como piada!

Nossa próxima atração vem de longe, lá do Japão. Famosos por seus trocadilhos e por sua exímia pontaria, eles já apresentaram para o mundo a piada da “caça científica” de baleias e agora prometem um novo número matador.

O governo japonês apresentou hoje (12/6) suas metas de redução de gases do efeito estufa. Com muito esforço e sacrifício, se comprometeu a reduzir, em 2020, 15% das suas emissões, com base no ano de 2005. Mais um trocadilho ! Sim, porque se considerarmos o ano base como 1990 [a referência usada por todos os países sérios], vemos que os 15% são na verdade 8%.

Já a ciência pede 40% de redução, no mínimo. Mas porque ouvir a ciência ?! Ela é, digamos, muito científica e chata. Então, já que estamos em um circo, vamos pular a ciência e abrir espaço para o próximo número.

Com vocês, a delegação russa!

–         Nada na manga direita, nada na manga esquera… Nada na mão direita, nada na esquerda… nada na cartola, nada no sapato, nada no bolso, nada….

Tcharam !!!! Os russos não apresentaram suas metas ! Mistura de mágica com piada !

Saem os mágicos russos, entram os americanos.

A apresentação da delegação americana é complexa. Na verdade, é mais do que uma mágica, é um milagre. O milagre da multiplicação. Os americanos tentam apresentar uma proposta que promete salvar o planeta. Funciona assim: Além das poucas ações de redução realizadas em solo americano, eles querem contar como suas as reduções adicionais e unilaterais obtidas com seu suporte financeiro aos países em desenvolvimento.

Vou tentar explicar, para facilitar: imagina que é hoje é o seu aniversário. Eu vou à festa e levo um presente. Ponto para mim, porque todo mundo vê que eu dei o presente. Na hora da saída, sem ninguém ver, eu vou lá e pego o presente de volta. Ganho duas vezes. O milagre da multiplicação.

As negociações aqui em Bonn estão assim, um circo. Cada um apresenta uma proposta mais maluca, com anos base diferentes, metas confusas, planos mirabolantes.

Para que haja uma negociação séria, é preciso que as propostas apresentadas pelos países sejam comparáveis, claras e ambiciosas. A ciência mostra que devemos manter o aumento da temperatura do planeta abaixo dos 2ºC e que para isso os países desenvolvidos tem que atingir, em 2020, reduções de emissões de no mínimo 40% abaixo dos níveis apresentados em 1990. Além disso, países em desenvolvimento, como o Brasil, tem que fazer reduções voluntarias nas suas emissões.

Ciência…!? O que este monte de números, saídos dos computadores de alguns dos melhores pesquisadores do planeta significam? Significam que se a concentreção de carbono na atmosfera subir para mais de 350 partes por milhão (ppm), teremos menos de 50% das chances de evitar uma catástrofe climática. Basicamente, você não embarcaria em um vôo que tem metade das chance de cair, certo?

Como a ciência é vista como muito chata, aproveito que estamos num circo e deixo a previsão do futuro do planeta para a cigana da bola de cristal. Uma pergunta a ser feita para ela seria:

–         Sra. Cigana, o que acontecerá com o planeta se a temperatura subir mais de 2 graus ?

E a resposta dela [considerando que a bola de cristal da cigana utiliza a mesma modelagem que o cientistas do IPCC] será:

–         Filho.. sabe a Amazônia ? Secou. Morreu. Sabe o Nordeste… secou mais e virou deserto… O Rio de Janeiro afundou, junto com Recife, Santos e todas as outras cidades costeiras do planeta. Os peixes morreram porque os oceanos ficaram muito ácidos… Há pouca água potável e muitos conflitos, por causa dos recursos escassos. Vira e mexe passa um furacão pelo que restou do sul do Brasil. Mundo afora… caos.

Preocupante né ? O problema é que pouca gente acredita na bola de cristal [e muito menos na ciência !]

Entretanto, dentre aqueles que acreditam, alguns precisam estar beeeem preocupados. Urgentemente preocupados.

Já ouviu falar de uns países pequenos, baixinhos, paraísos isolados com águas cristalinas,  muitos coqueiros e uma cultura milenar; a menos de 1 ou 2 metros de elevação acima do Oceano Pacífico? Tuvalu, Ilhas Marshall, Ilhas Salomão…então. Nesse planeta que mais parece um circo, o objetivo de vários “mágicos” que ocupam o poder é fazê-los desaparecer.

Esse truque nós não podemos deixar acontecer.

Venha conosco para o palco e não seja feito de palhaço. Dessa vez, o show não pode continuar…

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